sábado, 24 de janeiro de 2009

ORNITOLOGIA (parte II)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado

Na continuação deste ensaio para um manual de introdução ao “birdwatching” no Estuário do Cávado, vou apresentar uma das famílias do extenso número de aves com hábitos exclusivamente aquáticos que utilizam as nossas zonas húmidas principalmente para fazer face aos rigores do Inverno.

(Para uma conveniente interpretação das referências numeradas de 1 a 7 que se seguem ao nome de cada uma das espécies, é obrigatório ter sempre presente a chave que publiquei na primeira parte deste trabalho – ver texto anterior).

Ordem Podicipediformes

Família Podicipedidae
(três espécies)


Tachybaptus ruficollis (Mergulhão-pequeno)





































1 – Pouco preocupante;
2 – Predominantemente invernante;
3 – Pouco comum;
4 – Fácil, ainda que haja a remota possibilidade de confusão com o Mergulhão-de-pescoço-preto;
5 – Observado pontualmente ao longo de todo o estuário até à foz, mergulhando demoradamente em busca de alimento ou, caso se tenha apercebido da nossa presença, como meio de se dissimular enquanto se afasta; também pode ser encontrado em pequenos charcos temporários no seio do pinhal a sul de Fão ou ainda nas ribeiras costeiras das Marinhas e da Apúlia;
6 – Pouco tolerantes, contudo, com um pouco de cuidado, alguns indivíduos podem ser surpreendidos relativamente próximos das nossas lentes após uma breve emersão;
7 – Ainda que seja considerada uma ave semicolonial (forma pequenos bandos), os espécimes do nosso estuário observam-se normalmente isolados. A título de curiosidade, há ainda a referir que, conforme o verificado em cidades vizinhas, estas aves não se coíbem em colonizar lagos artificiais. O espécime das fotos será um adulto em plumagem de Inverno.



Podiceps cristatus
(Mergulhão-de-crista)
 

1 – Pouco preocupante;
2 – Detectada a ocorrência de apenas um indivíduo que permaneceu no estuário desde o final do mês de Julho de1998 até à primeira metade de Fevereiro de 1999;
3 – Ocasional;
4 – Fácil, é substancialmente maior que os restantes mergulhões;
5 – Nada a acrescentar;
6 – Nada a referir;
7 – Apesar de pouco avistado nesta região, em toda a bibliografia consultada esta espécie é indicada como comum em território nacional.




Podiceps nigricollis (Mergulhão-de-pescoço-preto)















 

1 – Quase ameaçado;
2 – Invernante;
3 – Comum;
4 – Fácil, mas há a considerar similaridades com o Mergulhão-pequeno;
5 – Distribui-se principalmente na zona do estuário marginada pela restinga em concentrações que podem ultrapassar a dezena de indivíduos;
6 – Pouco tolerantes, contudo, com um pouco de cuidado, alguns indivíduos podem ser surpreendidos relativamente próximos das nossas lentes após uma breve emersão;
7 – No âmbito do Plano de Ordenamento do PNLN – Parque Natural Litoral Norte, esta é uma das espécies da nossa avifauna caracterizada com elevado Valor Ecológico, portanto, de conservação prioritária.








domingo, 18 de janeiro de 2009

ORNITOLOGIA (parte I)


OBSERVAÇÃO DE AVES
(Estuário do Cávado)

Buteo buteo
(Águia-de-asa-redonda)











Por muito que temas como a micologia, a botânica, a entomologia ou a diversidade biológica em geral me seduzam, nestas coisas da interpretação da natureza, do ambientalismo ou do conservacionismo nada me tem cativado mais o interesse do que o ramo da ciência através do qual me principiei na tentativa de compreensão da ecologia da minha região: - o estudo das aves (ornitologia). Cumprindo então com o que me comprometi no post que publiquei no final de Novembro (Os Passarinheiros), a partir daqui e durante as próximas semanas, vou desenvolver alguns conceitos particulares sobre a Observação de Aves no Estuário do Cávado, Sistemas Dunares e Matas adjacentes e área agrícola e urbana envolventes.

Desde logo, devo dizer que o meu objectivo com esta apresentação não será a mera inventariação das espécies de aves selvagens (cerca de centena e meia) que por cá ocorrem com maior ou menor regularidade, nem sequer a descrição detalhada da biologia de cada uma delas. Ao contrário do panorama que se verificava há pouco mais de uma dezena de anos atrás, para aceder a tal informação, neste momento já existe vasta literatura sobre o tema e, além disso, também já dispomos desta admirável ferramenta que é a Internet onde abundam inúmeros portais sobre o assunto. Na conclusão não me escusarei a indicar aqueles que me parecem mais relevantes e, obviamente, serão também aqui referidos os créditos bibliográficos.

Depois de uma dúzia de anos dedicados em boa parte a observar as aves da nossa região, em particular nos habitats acima indicados, aquilo a que me proponho será contribuir modestamente com alguns esclarecimentos (dicas) sobre algumas das especificidades ou singularidades da avifauna que aqui ocorre. De certa forma, pretendo que as minhas palavras sirvam de auxílio (e mesmo de motivação) a todos aqueles que ponderam aceitar o desafio que lancei em Novembro para se iniciarem nesta actividade tão aliciante, de modo a que não se deparem com as mesmas dificuldades que experimentei nas minhas visitas de campo iniciais. Efectivamente, enquanto registava os meus primeiros apontamentos e identificava/catalogava as espécies que por cá iam ocorrendo, fui também percebendo que a preciosa informação contida nos poucos Guias de Aves de que dispunha não coincidia em absoluto com aquilo que ia observando, até porque aqueles livros se referiam globalmente a todo o continente europeu. Face a isso, fui-me documentando cada vez mais e melhor e, ainda assim, chegava sempre àquela conclusão e nem mesmo as fichas de caracterização biológica elaboradas no âmbito do Plano de Ordenamento e Gestão do Parque Natural Litoral Norte vieram colmatar as imprecisões ou omissões que fui detectando.

Assim, com base na experiência resultante da minha observação directa, vou passar a apresentar as várias espécies de aves que em doze anos identifiquei neste pequeno troço do litoral minhoto, na perspectiva de um observador de aves amador, agrupando-as pelas diversas ordens e famílias, acompanhadas dos seguintes elementos:

1 - Estatuto de conservação (em Portugal Continental, conforme o Anexo I da Ficha de Caracterização Biológica do PNLN – Julho de 2007);

2 - Fenologia (ou períodos/épocas do ano e que ocorrem/passam na região);

3 - Abundância (das populações locais ou das que frequentam esta região como migradores de passagem);

4 - Grau de dificuldade na identificação e possibilidade de confusão com outras espécies (unicamente com aquelas cuja ocorrência seja provável na região);

5 - Locais (ou habitats) ou circunstâncias mais adequadas para a observação;

6 - Tolerância à nossa aproximação e nível de dificuldade na obtenção de registo fotográfico dos espécimes selvagens;

7 - Outros dados com interesse.

(Além de, quando possível, ilustração das várias espécies com fotos exclusivamente da minha autoria – desde já, deixo o meu pedido de desculpa pela má qualidade da maior parte das imagens mas, como disse, o material usado é do mais acessível economicamente).

Segue-se de imediato e também em forma de exemplo um grupo de espécies da avifauna da nossa terra.

Tendo em conta que em Novembro já publiquei fotos de algumas das “nossas” aves, peço-vos que retrocedam cinco textos e consultem as imagens que acompanham o post com o título «Os Passarinheiros» e associem-nas aos dados que apresento a seguir:

(NOTA: O nome vernáculo ou comum que adoptei para cada uma das espécies referidas será o do «Guia de Campo das Aves de Portugal e da Europa» da Temas e Debates, de John Gooders e Alan Harris, 1996).

Ordem Passeriformes

Família Fringillidae(sete espécies)


Fringilla coelebs (Tentilhão)

1 – Pouco preocupante;
2 – Aparentemente invernante;
3 – Comum;
4 – Fácil, embora as fêmeas e os juvenis possam ser confundidos com a fêmea do Pardal-comum;
5 – Prado juncal, zonas arborizadas e ajardinadas nas margens do Cávado, sistemas dunares e área agrícola, denunciado pelos melodiosos chamamentos que emite;
6 – Relativamente tolerante, sendo frequente encontrar alguns espécimes que permitem a aproximação até cerca de 10 ou 15 metros enquanto permanecem bem expostos no topo de arbustos ou árvores;
7 – Os indivíduos mais frequentes na região não apresentam os padrões vistosos e coloridos dos machos adultos e as características mais destacadas desta ave são as penas externas da cauda e as barras das asas de um branco bem marcado quando levantam voo.


Serinus serinus (Chamariz)

1 – Pouco preocupante;
2 – Residente mas predominantemente estival;
3 – Muito abundante;
4 – Fácil, podendo ser confundido com o Lugre, porém, como este migrador de passagem é escasso e ocorre em época oposta àquela em que predomina o Chamariz, não é muito provável surgir a confusão;
5 – Distribui-se por todos os locais mas predomina nas zonas ajardinadas e no pinhal onde se ouvem os seus trinados muito sonoros e ásperos;
6 – Relativamente tolerante, consentindo a aproximação até cerca de 20 metros demorando-se no alto dos ramos dos pinheiros;
7 – Como é comprovadamente nidificante, é comum vê-los a esvoaçar num modo muito característico quase sem se deslocarem enquanto cantam, obviamente em parada nupcial.


Carduelis chloris (Verdilhão)

1 – Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Abundante;
4 – Fácil;
5 – Distribui-se por todos os locais mas predomina nas zonas ajardinadas, no pinhal e campos agrícolas, onde facilmente se detectam pelas cores verde e amarelo notório;
6 – Relativamente tolerante, habitualmente empoleira-se a vocalizar de modo semelhante ao do doméstico Canário em manchas arbustivas ou árvores dos nossos quintais;
7 – Não é raro nidificarem nas árvores das nossas praças onde generosamente nos presenteiam com os seus cantos melodiosos, pelo que não se entende o motivo pelo qual ainda é capturado para fins ornamentais em cativeiro.


Carduelis carduelis (Pintassilgo)

1 – Pouco preocupante;
2 – Migrador de passagem, principalmente durante os meses de Outubro e Novembro em deslocação para sul;
3 – Comum;
4 – Muito fácil;
5 – No caso muito particular desta região, surgem em campo aberto nas dunas e no prado juncal, bem como em terrenos agrícolas, onde são observados bandos mais ou menos numerosos deslocando-se em sobrevoo apressado quase sem pausas;
6 – Também nas circunstâncias regionais, nada tolerante, tornando-se muito difícil de detectar a sua presença ou passagem, a menos que se usem os mesmos métodos de captura para manutenção em cativeiro;
7 – Apesar do estatuto de conservação acima indicado, é unânime a opinião dos passarinheiros desta região, segundo os quais se registam de ano para ano cada vez menos capturas; de salientar ainda que, à medida que nos deslocamos para sul, esta espécie se torna cada vez mais abundante, chegando mesmo a presenciar-se populações residentes já na vizinha cidade do Porto em cujos parques facilmente se observam com relativa proximidade alguns indivíduos.


Carduelis cannabina (Pintarroxo)

1 – Pouco preocupante;
2 – Aparentemente surgem na região dois tipos de populações distintas, ou seja, migradores de passagem e residentes;
3 – Muito abundante;
4 – Fácil;
5 – Bem distribuído por todo o estuário e dunas salpicando de vermelho vivo o topo dos juncos e da vegetação arbustiva em que se empoleira a emitir demorados cantos agudos;
6 – Muito tolerante, havendo casos em que consente aproximações inferiores a 5 metros mantendo-se bem expostos;
7 – Habitualmente encontrado aos pares.


Carduelis spinus (Lugre)

1 – Pouco preocupante;
2 – Migrador de passagem, principalmente durante os meses de Outubro e Novembro em deslocação para sul;
3 – Pouco comum;
4 – Fácil, mas ver o que foi mencionado para o Chamariz;
5 – No caso muito particular desta região, surgem em campo aberto nas dunas e no prado juncal, bem como em terrenos agrícolas, onde são observados bandos cada vez menos numerosos deslocando-se em sobrevoo apressado quase sem pausas;
6 – Nada tolerante, tornando-se muito difícil de detectar a sua presença ou passagem, a menos que se usem os mesmos métodos de captura para manutenção em cativeiro;
7 – Apesar do estatuto de conservação acima indicado, têm sido cada vez mais escassos os registos de presença de passagem destas aves na região.


Coccothraustes coccothraustes (Bico-grossudo)
1 – Pouco preocupante;
2 – Detectada apenas a ocorrência de um pequeno bando em Junho de 2000 na Mata de Pinheiro entre Fão e Apúlia nas proximidades de um charco artificial (já praticamente inexistente);
3 – Ocasional;
4 – Fácil;
5 – Nada a acrescentar;
6 – Nada a referir;
7 – Pela literatura consultada, não se desenvolverão nesta região os habitats onde tipicamente ocorrem as aves desta espécie.