sábado, 27 de junho de 2009

ORNITOLOGIA (parte XIX)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado



Ordem Passeriformes

Família Turdidae

(nove espécies)


Erithacus rubecula (Pisco-de-peito-ruivo)























































1 – (Estatuto de conservação) Pouco preocupante;
2 – (Quando observar) Residente; a partir do Outono e durante o Inverno é possível que se verifique um acréscimo do número de indivíduos observados em virtude de também ocorrerem na região populações Migradoras de Passagem e Invernantes;
3 – (Abundância) Abundante;
4 – (Espécies parecidas) O peito, face e testa ruiva da ave adulta torna-a única (das “nossas” aves apenas o Cartaxo-comum e o Cartaxo-do-norte, ambos com várias características que os distinguem do pisco, têm peito da mesma cor alaranjada mas menos viva); por sua vez, o juvenil poderá assemelhar-se com outros imaturos de espécies desta família, como os do Pisco-de-peito-azul (nidificação apenas provável) que, no entanto, surgem em habitats muito distintos e também se podem parecer com as crias do Rouxinol (Luscinia megarhynchos), cuja ocorrência, pessoalmente, não tenho confirmada (disponho apenas de muitas anotações de campo, sobretudo em Setembro, de indivíduos que me pareceram desta espécie), mas que consta na Lista de Aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Podem ser observados praticamente em todos os habitats naturais, semi-naturais e também nos jardins do meio urbano e áreas agrícolas; prefere zonas onde haja sebes ou vegetação arbustiva densa, onde a sua presença é muitas vezes detectada através das suas belas e sonoras vocalizações; todos os pinhais, as matas de folhosas, as margens do Cávado com vegetação ripícola e silvados, os jardins das vivendas do núcleo turístico de Ofir e as sebes de todos os campos agrícolas são óptimos locais para os encontrar; são vistos pousados tanto num ramo de árvore ou arbusto por entre a folhagem, como no seu topo, mas também à cata de insectos no solo onde haja muitas folhas caídas que são revolvidas com insistência e método (nestas circunstâncias torna-se engraçado vê-los a saltitar e a fazerem uma espécie de “vénia” enquanto nos fitam com curiosidade);
6 – (Tolerância à nossa presença) Não são tímidos mas é comum ouvi-los cantarem a meia dizia de metros de distância e não serem avistados pois, apesar da tranquilidade com que permitem a aproximação, empoleiram-se com frequência precisamente atrás de uma folha ou de um galho que os mantém “invisíveis”; é uma das aves mais fáceis de fotografar através do método do esconderijo, pois tem poisos habituais e é facilmente atraída por alimento;
7 – (Outros dados de interesse) As fêmeas também podem emitir um belo canto.


Phoenicurus ochruros (Rabirruivo-preto)


























































































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente; a partir do Outono e durante o Inverno é possível que se verifique um acréscimo do número de indivíduos observados em virtude de também ocorrerem na região populações Migradoras de Passagem e Invernantes;
3 – Comum;
4 – Não se parece com qualquer outra espécie;
5 – Ave urbana que ocupa principalmente casas arruinadas, devolutas ou pouco frequentadas; assim, não será de estranhar que particularmente em Fão se desenvolvam excelentes condições para esta ave se instalar, desde a zona degradada do centro urbano consolidado até aos campos agrícolas mais isolados nas Pedreiras ou ainda as habitações de veraneio em Ofir ou no Suave Mar; anuncia-se muitas vezes pousada no peitoril de uma janela, telhados, antenas, muro, poste ou noutras estruturas artificiais enquanto se repete num cântico chilreado logo ao amanhecer; também são vistos por hábito no relvado atrás da Pousada da Juventude em Fão a perseguirem insectos tanto no solo como em voos acrobáticos;
6 – Nada tímida; confesso que tive alguma dificuldade em seleccionar as imagens para acompanhar este texto, dada a abundância de registos que obtive sem necessidade de usar toda a capacidade do zoom; basta sentarmo-nos durante alguns minutos num local onde é costume pousarem para virem ter connosco e quase nos “entrarem” pelas lentes adentro; as fotos com fundo azul foram tiradas no denominado “Poço do Duca” em Fão (perto da pousada) onde a ave tem o costume de pousar em restos de jardim ou da agricultura despejados para as águas e as imagens da fêmea (ave mais acastanhada) ou a de fundo verde foram obtidas sentado naqueles bancos de jardim perto do poste instalado no já referido relvado; também não faltam muitos outros sítios onde, por exemplo a partir do interior do automóvel, seja possível fotografar estas aves, sendo os meus favoritos o pinhal da restinga e as vedações daquelas vivendas localizadas para norte das torres de Ofir;
7 – Em Fão esta espécie foi (bem) baptizada de «Rabo-queimado».


Luscinia svecica (Pisco-de-peito-azul)
















































































1 – Pouco preocupante, consta no anexo A-I da Directiva Aves e é uma espécie definida como de conservação prioritária para o Parque Natural Litoral Norte (PNLN);
2 – Ocorrem na região vários indivíduos Migradores de Passagem, principalmente durante o mês de Setembro e restam-se por cá alguns Invernantes até Março; em 1998 verifiquei que permaneceu no estuário pelo menos um casal durante a época estival e posteriormente, em anos não contínuos, o mesmo repetiu-se mas nunca confirmei a reprodução;
3 – Raro;
4 – Observado com atenção é uma ave única; num olhar muito breve podemos confundir apenas a fêmea com o Cartaxo-do-norte (ambos têm uma lista bem marcada sobre os olhos e um “bigode” também bem notado); se forem avistados já em fuga rápida com o peito não visível e a cauda castanho-avermelhada voltada para o observador, há ainda a possibilidade remota de confusão com o acima mencionado Rouxinol;
5 – Com excepção de um espécime, que já há vários anos frequenta uma parte do estuário próxima da margem nas traseiras da estalagem “Parque do Rio”, apenas são observados nas zonas de mais difícil acesso no juncal, onde são avistados empoleirados no topo dos juncos ou a saltitar nas areias húmidas dos estreitos regos formados pelo sapal;
6 – Não são fáceis de localizar mas uma vez avistados não se manifestam muito tímidos, guardando, contudo, uma distância de segurança próxima da dezena de metros; no solo as fotos não resultam bem, mas se forem encontrados num poleiro, as cores vivas da sua plumagem evidenciam-se, podendo dar origem a belas imagens;
7 – Não são gregários mas nas zonas onde são localizados habitualmente alguns machos, acabo quase sempre por encontrar uma fêmea relativamente próxima.


Saxicola rubetra (Cartaxo-do-norte)

1 – Vulnerável;
2 – Unicamente Migrador de Passagem avistado sobretudo durante o mês de Setembro e também em Outubro;
3 – Muito raro; nem todos os anos é confirmada a sua ocorrência (entenda-se passagem);
4 – Considerar o que está referido na anterior, mas esta espécie é particularmente parecida com o congénere próximo Cartaxo-comum (ver a seguir), distinguindo-se deste principalmente pela lista superciliar (risco bem marcado por cima do olho) de cor branca que tanto o macho como a fêmea ostentam;
5 – Entre os anos de 1998 e 2007 avistei um ou outro indivíduo isolado no estuário, sempre nas imediações da zona onde actualmente está instalado o miradouro e respectivo acesso;
6 – Parece muito mais tímido que o “parente” que se segue, mas o número de observações que registei é tão escasso (menos de dez) que não disponho de dados que me permitam adiantar mais informações;
7 – Os habitats naturais que esta espécie frequenta em território nacional são muito diferentes dos que aqui se desenvolvem (geralmente em altitudes acima dos 1.000 m), pelo que julgo ser esse o motivo pelo qual não consta na Lista de Aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte; de qualquer forma, numa nota pessoal, posso garantir que alguns indivíduos passam no nosso estuário durante as suas deslocações para África.


Saxicola torquatus (Cartaxo-comum)









































































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Abundante;
4 – Considerar o exposto na espécie anterior;
5 – É comum em vários tipos de habitats de vegetação rasteira mas nesta região predomina pelo estuário que ocupa na totalidade e onde é encontrado com facilidade; também não despreza zonas agrícolas ou mesmo as dunas consolidadas; o padrão da plumagem do macho é vistoso, particularmente o contraste formado entre o laranja-avermelhado do peito, a “gola” branca no pescoço e o preto da cabeça, mas normalmente, ainda antes de ser visto, é detectado pela sua vocalização característica «tchac tchac», enquanto nos vigia empoleirado no topo de um junco ou tojo;
6 – São muito tolerantes à nossa presença; se o ninho estiver por perto (no solo), insistem em distrair-nos permitindo ainda maiores aproximações, contudo, nestas circunstâncias, deveremos ter a sensibilidade de nos afastarmos tão breve quanto possível;
7 – É vulgar encontrar literatura referindo-se a esta mesma ave com o nome científico de Saxicola torquata.


Oenanthe oenanthe (Chasco-cinzento)





































1 – Pouco preocupante;
2 – Típico Migrador de Passagem observado durante Abril em rota para norte ou para zonas montanhosas e posteriormente, principalmente nos meses de Setembro e Outubro, regressam no sentido contrário;
3 – Raro;
4 – A silhueta desta ave apresenta algumas características parecidas com a dos Cartaxos, com quem partilha também vocalizações semelhantes «tchac tchac», mas a sua plumagem é única, realçando-se nos seus voos curtos a cauda branca com um T de cor preta bem contrastado;
5 – É sempre visto isolado no meio rasteiro, sobretudo em áreas bem abertas como os campos agrícolas (na margem direita do Cávado), a orla do estuário com vegetação herbácea (atrás do Hotel do Pinhal até ao miradouro ou ainda no relvado ao lado da Pousada da Juventude) e também nas praias (já encontrado nas pedras dos três esporões); escolhe sempre um poleiro baixo (pedra, vedação, galho, tronco ou montículo de terra) quase rente ao solo;
6 – Ave muito elegante que tolera bem a nossa aproximação e mantém por hábito uma postura erecta enquanto nos espreita; por vezes parecem (apenas) distraídos sem repararem na nossa presença enquanto caçam insectos por entre as ervas;
7 – Nada a acrescentar.


Turdus merula (Melro-preto)























































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Abundante;
4 – Todas as pessoas conhecem bem esta ave que, observada com atenção, é única; à distância poderá ocorrer a remota possibilidade de confusão com os também negros e de bicos amarelos Estorninho-malhado (Sturnus vulgaris) e Estorninho-preto (Sturnus unicolor), ambos com a cauda muito mais curta e silhueta consideravelmente diferente (consultar com mais pormenor guias de identificação);
5 – Com excepção das praias propriamente ditas, distribuem-se por todas as variedades de meios naturais e urbanizados em especial onde se desenvolve vegetação arbustiva ou sebes vivas; nesse sentido, as margens do Cávado e os jardins das vivendas no núcleo turístico de Ofir, em cujos relvados humedecidos pelas regas constantes se alimentam fartamente de minhocas, são excelentes locais para os encontrar e ouvir os seus afinados cânticos;
6 – É sem dúvida uma das espécies mais típicas das nossas povoações desde pequenas aldeias no meio rural até às cidades das grandes metrópoles e o à-vontade com que permitem a nossa aproximação aumenta proporcionalmente com a dimensão e densidade desse meio (p.ex. na gigantesca Londres vêem ter connosco para comer às nossas mãos, assim como fazem os pombos em Lisboa ou Porto); de qualquer modo, numa opinião muito pessoal, considero que por cá a tarefa de os fotografar não é tão simples quanto possa parecer, sendo preferível tentar fazê-lo num jardim ou quintal particular do que no campo ou no meio silvestre;
7 – As melodiosas vocalizações dos machos são tão apreciadas pelas respectivas fêmeas como pelos humanos que lamentavelmente ainda mantêm o hábito de os aprisionar como ave ornamental; esta “tradição”, que começa com a captura do ninho e de todos os seus jovens ocupantes, não pode ter qualquer fundamentação razoável, pois a justificação de querermos ter a presença de uma ave destas em cativeiro para termos sempre disponíveis os seus trinados próprios de uma flauta bem afinada, esbarra-se no simples facto de, como já referi, raro ser o sítio em que os cânticos dos Melros não cheguem bem projectados; além disso, se estiverem em liberdade, ainda poderão ser um aliado importante enquanto comedores de quantidades apreciáveis de caracóis tão nocivos para as plantas das nossas hortas ou jardins.


Turdus philomelos (Tordo-músico)














































































1 – A população residente reprodutora está considerada como Quase Ameaçada; por sua vez a invernante é Pouco Preocupante;
2 – Ver o número anterior;
3 – Raro, podendo tornar-se mais numeroso a partir de finais de Agosto com o início da migração que se prolonga até Outubro ou Novembro, altura em que são avistados numerosos bandos;
4 – Ocorrem regularmente quatro espécies de Tordos em Portugal Continental e são todas muito parecidas, no entanto, além desta, na área em estudo apenas está confirmada a presença da Tordeia (a seguir apresentada), que partilha alguns habitats em comum, mas tem um tamanho notavelmente maior e o dorso é mais acinzentado (diferença muito subtil); como está indicado no próprio nome, estas aves emitem vocalizações melodiosas, poderosamente estridentes e muito características, o que, com algum treino, ser-nos-á suficiente para as distinguir de imediato mesmo sem as avistar; o meu “truque” para, na observação de campo, fazer a distinção entre uma e outra ave, é imaginar o tamanho do familiar Melro-preto e tentar avaliar o comprimento da espécie em presença, se for ligeiramente menor, trata-se do Tordo-músico, se for notoriamente maior, é a Tordeia;
5 – Os poucos indivíduos que permaneceram por cá na época estival (durante a Primavera até ao início do Verão), apenas neste ano de 2009, foram detectados na zona agrícola das Pedreiras em Fão, ainda em pleno pinhal que se estende até à “Lagoa da Apúlia” e também nas imediações da “Estalagem Parque do Rio”, sempre rente ao solo a partir a casca de caracóis que captura em abundância (enche o papo e dirige-se para outro local, aparentemente para alimentar crias – sem confirmação); por sua vez, os grandes bandos de Migradores de Passagem são vistos principalmente vindos da margem norte do Cávado em voo rápido para sul sem interromperem a viagem; nestas circunstâncias, o prado juncal que se estende até ao Caldeirão em Fão é um óptimo local de observação;
6 – Parecem tímidos, pois quando estou apeado quase sempre os vejo em fuga (excepto quando se dedicam a prolongados cânticos num ramo de árvore bem alto); os dois momentos em que tirei as modestas fotos acima apresentadas foram possíveis em virtude de me encontrar “invisível” (na perspectiva da ave) no interior de automóvel; nestes dois casos o tordo estava entretido a desfazer um caracol do qual parecia não querer desistir facilmente, logo, “arriscou-se” permitindo a minha aproximação;
7 – Todos os Tordos (Turdus sp., exclua-se os Melros) são espécies cinegéticas que sofrem de grande pressão venatória cujo calendário se inicia em Outubro e estende-se até ao final de Fevereiro.


Turdus viscivorus (Tordeia)

1 – Pouco preocupante;
2 – Os escassos registos de observação que obtive limitam-se ao período do ano compreendido entre Novembro e Março o que não significa obrigatoriamente que seja invernante;
3 – Embora seja uma ave comum em território nacional, as ocorrências no litoral de Esposende não serão mais do que meramente acidentais (sendo uma espécie de reduzida conspicuidade, ou seja, mostra-se pouco, também poderá estar neste factor a dificuldade na sua detecção);
4 – Considerar o mesmo que foi exposto em igual número da espécie anterior;
5 – Apenas registei a ocorrência de um indivíduo isolado (a partir do Outono de 1997 que foi regressando, talvez o mesmo, até dois anos depois e desde aí não tenho confirmado em absoluto outras observações), o qual foi sempre avistado em pleno pinhal da restinga a alimentar-se no solo;
6 – A reduzida experiência não permite que me adiante muito acerca da sua tolerância à nossa presença, mas fiquei com a ideia de que são aves discretas e talvez se deixem ver com menor dificuldade no Inverno enquanto procuram o alimento que é mais escasso;
7 – Nada a acrecentar.