sábado, 25 de junho de 2011

OBSERVAÇÃO DE AVES (MAIO 2011) (1º. Anexo)

Confirmação da ocorrência de uma nova espécie de CHARADRIIFORMES
 
Família Scolopacidae
 
Género Calidris (Pilritos)
 
Não estarei muito longe da verdade se disser que em Portugal Continental ocorrem regularmente 7 (sete) espécies de Pilritos (segundo Catry P., Costa H., Elias G. & Matias R. 2010. em AVES DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL. Assírio & Alvim, Lisboa, ainda há a considerar o registo no nosso território de outras sete mas com o estatuto de acidentais). Entre estas, as quatro mais frequentes já estão por mim registadas para o estuário do Cávado, a saber, a Calidris canutus (Seixoeira), migradora de passagem e invernante pouco comum, o Calidris alba (Pilrito-d’areia ou P.-das-praias), migrador de passagem e invernante pouco comum a comum, o Calidris ferruginea (Pilrito-de-bico-comprido), migrador de passagem e invernante pouco comum, e o Calidris alpina (Pilrito-comum ou P.-de-peito-preto), invernante e migrador de passagem comum mas localizado. (ver mais aqui)
 
Por tal, tendo em conta que nesta zona húmida ou nas suas imediações ainda se desenvolvem condições de certo modo favoráveis para o acolhimento, nem que seja passageiro, de duas das restantes três, nunca deixo de investir alguma atenção na tentativa de identificar um ou outro indivíduo dessas “novas” espécies entre os bandos dos mais numerosos C. alba ou C. alpina.
 
E disse apenas duas em virtude da terceira espécie, o Calidris temminckii (Pilrito-de-temminck), migrador de passagem pouco comum e invernante raro e localizado, além de surgir quase exclusivamente no sul do nosso país, parece «evitar zonas de influência marinha, como sectores intermareais de estuários e rias, assim como as praias do litoral» (in AVES DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL).
 
Dos que sobram, a observação do Calidris maritima (Pilrito-escuro), invernante raro e localizado, também não será muito provável num litoral com as características do de Esposende. De qualquer modo, a frequência com que o amigo Sérgio Silva os encontra nos molhes do porto da Póvoa de Varzim (ver as últimas fotos aqui), tem-me servido de incentivo para também os procurar em iguais estruturas artificiais na foz do Cávado ou nos esporões da praia de Ofir, onde nunca os encontrei.
 
Por fim, ainda falta referir-me a uma espécie já indicada na «Lista de espécies de aves referenciadas para o Parque Natural do Litoral Norte», apresentada na Caracterização Biológica no âmbito do respectivo Plano de Ordenamento e Gestão, mas que nunca pude, com toda a segurança necessária, incluir na minha lista pessoal: - o Calidris minuta (Pilrito-pequeno). A 16 de Maio de 2011, numa manhã quente com céu limpo, a maré baixa expôs muitos lodaçais e areais onde, relativamente aos dias anteriores, se encontrava um maior número de C. alpina e C. alba, quase todos com as vistosas plumagens estivais. Entre estes, encontrava-se uma ave, obviamente do Género Calidris mas nunca maior do que um Pardal-comum. Apesar da longa distância a que foi observado com auxílio de binóculos, ainda o pude fazer demoradamente e certificar-me que de facto o espécime era muito menor do que os seus congéneres ali próximos e com os quais pode ser confundido.



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A única foto disponível, obtida a uma distância superior a 50 metros, embora distorcida, sobretudo no bico que parece comprido, não revela quaisquer características morfológicas que excluam a minha conclusão: confirmação da presença do Pilrito-pequeno na área em estudo.
 
O Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal classifica o seu estatuto de conservação de Pouco Preocupante. No portal “avesdeportugal” também está mencionado que existe o registo da sua observação no estuário do Cávado.
 
A título de curiosidade, ainda julgo ser interessante deixar aqui mencionado que naqueles dias de Maio registei centenas de fotos de limícolas. A posterior análise que faço tranquilamente em frente ao monitor do computador revelou-me numa das imagens um óbvio Pilrito-comum exibindo uma plumagem que me era estranha.





 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Submetida à ampla apreciação no “forum-aves”, estas fotos confirmaram o meu diagnóstico e ainda aprendi que esta imagem caracteriza alguns imaturos. Além disto, também recebi a sugestão de Simon Wates de que o espécime em análise deverá ser da subespécie dominante em Abril e Maio, o Calidris alpina schinzii. Saliento, finalmente, que esta subespécie, devido ao decréscimo do número de efectivos foi recentemente incluída no Anexo I da Directiva Aves (espécies objecto de medidas de conservação especial respeitantes ao seu habitat, de modo a garantir a sua sobrevivência e a sua reprodução na sua área de distribuição).


 
Confirmação da ocorrência de uma nova espécie de PASSERIFORMES
 
Família Hirundinidae (Andorinhas)
 
Das 5 (cinco) espécies de Andorinhas presentes no nosso país, três já estavam por mim referenciadas para o estuário do Cávado: - a Riparia riparia (Andorinha-das-barreiras), estival pouco comum a comum, a Delichon urbicum (Andorinha-dos-beirais), estival muito comum, e a Hirundo rustica (Andorinha-das-chaminés), estival muito comum.




 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Além destas, ainda haverá a hipótese de aqui encontrarmos a Ptyonoprogne rupestris (Andorinha-das-rochas), residente e invernante pouco comum, habitual nas vizinhas serras da Peneda, Amarela e Gerês (observa-se com relativa facilidade junto ao Santuário da Nossa Senhora da Peneda, na Gavieira, Arcos de Valdevez) e que, conforme o apontado por alguma literatura, pode invernar no litoral. Aliás, já registei a ocorrência de um indivíduo desta espécie no parque da cidade no Porto precisamente durante o Inverno. Apesar disto, junto à foz do Cávado nunca observei esta espécie, não conheço quem o tenha feito e não está indicada na «Lista de espécies de aves referenciadas para o PNLN».
 
A quinta e última espécie desta Família ainda está a escrever a sua interessante história de disseminação pela Península Ibérica acima. Refiro-me à belíssima Hirundo daurica (Andorinha-dáurica). Catry P., Costa H., Elias G. & Matias R. 2010. em AVES DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL. Assírio & Alvim, Lisboa, referem-se a esta ave como estival pouco comum a comum, mais numerosa no interior do que no litoral e mais comum a sul do rio Tejo. Também mencionam que na primeira metade do século XX não era conhecida a sua ocorrência em Portugal. A Equipa Atlas (2008) - Atlas das Aves Nidificantes em Portugal (1999-2005) - Instituto da Conservação da Natureza, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Parque Natural da Madeira e Secretaria Regional do Ambiente e do Mar. Assírio & Alvim. Lisboa, reitera aqueles dados, mas já confirma a sua nidificação no litoral do distrito de Viana de Castelo.
 
Apesar de também não estar indicada na «Lista de espécies de aves referenciadas para o PNLN», o amigo Sérgio Esteves fotografou-a no estuário do Cávado no dia 5 de Outubro último (conforme se pode ver aqui). Assim, aguardava com entusiasmo o inevitável dia em que visse o primeiro casal desta espécie a instalar-se entre nós.
 
Na soalheira madrugada do dia 3 de Maio de 2011, o Sapal do Forte de São João Baptista, junto à foz do Cávado, era muito procurado por inúmeras andorinhas que ali recolhiam lama para a construção dos ninhos. Desde logo percebi que naquele frenesim um par se distinguia das outras, pelo que imediato lhes apontei a teleobjectiva.






 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Por si só, as imagens atestam a presença da Andorinha-dáurica no estuário do Cávado, pelo que tentei perceber o destino dos seus voos a partir dali. Acabei por localizar poucos dias depois o seu ninho praticamente concluído numa vivenda ainda desocupada no Outeirinho – Marinhas.
 
No dia 13, também de madrugada, entre um corrupio de Andorinhas-dos-beirais e algumas A.-das-chaminés que recolhiam lama no lodaçal em frente ao jardim do Curtinhal em Fão, voltei a encontrar outro indivíduo isolado daquela espécie que, contudo, parecia não estar interessado em construir ninho.
 
Está classificada no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal como espécie com estatuto Pouco Preocupante.