Confirmação da
ocorrência de duas novas espécies de CHARADRIIFORMES
Família Scolopacidae
Género Tringa
Na
LISTA SISTEMÁTICA DAS AVES DE PORTUGAL CONTINENTAL
(Anuário Ornitológico 5: 74-132. R. Matias et al. 2007.) constam nove
espécies de limícolas do género Tringa.
Apesar deste número, na minha lista pessoal para o estuário do Cávado não tinha
registado mais do que três destas aves: - o Perna-vermelha-escuro (Tringa erythropus), migrador de passagem
pouco comum e invernante raro (*), o Perna-verde (Tringa nebularia), migrador de passagem e invernante pouco comum
(*), e o Perna-vermelha (Tringa totanus)
migrador de passagem e invernante comum e nidificante raro (*). No decorrer do
último mês de maio, apenas foram aqui observados indivíduos destas duas últimas
espécies.
Além
deste trio, estão ainda indicadas naquele anuário quatro aves consideradas
acidentais (*) no continente nacional: - o Maçarico-solitário (Tringa
solitaria), o Perna-amarela-grande
(Tringa melanoleuca), o Perna-verde-fino (Tringa stagnatilis) e o Perna-amarela-pequena (Tringa flavipes),
cuja ocorrência, ainda assim, foi assinalada por P. Dias (**) e Luís Rodrigues no vizinho estuário do Douro em outubro de 2010.
E restam duas espécies que há já
algum tempo conto inscrever no meu inventário para esta zona húmida. Uma delas
é o Maçarico-bique-bique
(Tringa ochropus), migrador de passagem e invernante pouco comum (*) que
já foi registado no distrito de Braga por G. Alexander (**) em data e local que
ignoro, ainda no Cabedelo de Vila Nova
de Gaia, no ano de 2005, por R. Brito e A. Pereira (**), e, por fim, aqui perto
no distrito de Viana do Castelo (**) em data e local que igualmente não sei
indicar. A outra é o Maçarico-de-dorso-malhado (Tringa glareola), migrador de passagem raro a pouco comum e
invernante raro ou irregular (*), já registado neste estuário em Agosto de 2011
por Carlos Rio e outros observadores.
Quanto
à primeira, continuo sem a observar na minha área de estudo, mas no final de
tarde do nebulado dia 16.05.2012, no pequeno
sapal a montante da ETAR e por entre um bando de seis Pernas-vermelhas e um
Perna-longa, registei estas imagens:
Submeti-as à apreciação da comunidade nacional de birdwatchers, de onde obtive o reforço
da minha convicção de que estava perante dois
Maçaricos-de-dorso-malhado
(Tringa glareola), espécie
não indicada no Livro Vermelho dos
Vertebrados de Portugal, mas à qual foi atribuído o
estatuto de conservação global de «Pouco Preocupante» pela União
Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Família Laridae
Por
via das recentes “descobertas” no estuário do Cávado da Gaivota-de-bico-riscado
(Larus delawarensis) e da Gaivota-pequena
(Hydrocoloeus minutus), esta família
tem merecido destaque nalguns dos já vários anexos às «Listas anotadas e
ilustradas das aves observadas no Estuário do Cávado e habitats envolventes» aqui mensalmente publicados desde o
início do ano. Ficaram, assim e até ao mês de abril, inscritas 8 (oito)
diferentes espécies de gaivotas no meu inventário pessoal para esta zona húmida
(ver mais aqui).
Mas num meio com as
caraterísticas do litoral norte, devemos estar sempre atentos às hordas de
gaivotas concentradas nas margens e considerar a possibilidade de a qualquer
momento sermos surpreendidos por alguma “novidade”. E foi o que fiz numa também
nublada manhã de maio, quando, a partir do miradouro da restinga, um espécime
em particular me despertou tal atenção que me obrigou a uma necessária, ainda
que atribulada, manobra de aproximação. Incrédulo face ao registo fotográfico então
obtido, recorri novamente ao Fórum Aves a solicitar ajuda, deste modo:
«Na cinzenta
manhã do dia 11 de maio de 2012, ao
“varrer” o bando de gaivotas que repousava na
restinga do rio Cávado, retive-me na menor dimensão de um dos indivíduos.
Aproximei-me e fiquei
convencido de que estava perante uma Gaivota-de-cabeça-preta (Ichthyaetus
melanocephalus).
Mas, ao levantar voo, a
ave exibiu um padrão na asa que me intrigou.
Será que me enganei na
identificação?»
Mais uma vez, a “infinita”
disponibilidade do Pedro Ramalho foi decisiva para o correto diagnóstico da
espécie envolvida:
«… para além do
tamanho, repara no padrão das asas, da cauda, do tamanho muito próximo de uma
fuscus, do cinza muito claro do dorso, no típico formato da cabeça e bico e na
cor das patas... é uma das espécies típicas do Algarve. Foi pena ter sido um 2º ano… E parabéns pela nova espécie (Larus audouinii) para o distrito!… Para as aves de 2º ano a chave é o tom de
cinzento + as patas cinzentas + a cauda preta com uropígio branco, e o tamanho…»
E esta bem fundamentada opinião foi
reforçada via Facebook pela Sociedade Galega de Ornitoloxía:
«Estou de acordo na identificación, parabéns!. En Galicia
apareceron dous exemplares diferentes (Pontevedra e Coruña) nas últimas
semanas, ambas as aves inmaturas de 3 e 4 cy. Andade atentos que poden aparecer
máis!»
Fica,
assim, arrolada a Gaivota-de-audouin (Larus
audouinii) como 9ª espécie desta família na minha lista para o
estuário do Cávado. No Livro Vermelho dos
Vertebrados de Portugal, a população desta
migradora de passagem pouco comum e nidificante rara (*) têm o estatuto de
«Vulnerável». Provenientes das regiões costeiras do Mediterrâneo, estas aves quase
não se distribuem para cá do Algarve, daí a grande surpresa com que concretizei
esta observação.
Para
concluir, refira-se que, apesar de uma clara diminuição nos seus efetivos, em
maio ainda se observaram na região alguns Guinchos (Chroicocephalus ridibundus), Gaivota-de-asa-escura (Larus fuscus), sobretudo juvenis, e
vários adultos de Gaivota-de-patas-amarelas (Larus michahellis), entre os quais alguns reprodutores.
(*)
Estatuto fenológico atribuído por Catry P., Costa H., Elias G. & Matias R.
2010. em AVES DE
PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL. Assírio
& Alvim, Lisboa.
(**)
Listas distritais do portal Aves de
Portugal.